13 fevereiro 2007

Construção verdadeiramente industrializada

Hoje, conversando com uma grande amiga, a Engenheira Kycia Cordeiro, sobre os problemas enfrentados em uma das obras que acompanho, uma frase foi dita, mais uma vez, entre as infinitas das vezes que já a escutei. "O processo todo ainda é muito artesanal". Realmente, qualquer obra atual, seja no Nordeste ou em São Paulo, o mais poderoso centro econômico do país, uma coisa é certa: o produto acabado é um grande "artesanato". Algo comparado à uma grande escultura ou mesmo um pote de barro. Mesmo que existam dois similares, não existe um igual ao outro. Cada parte, cada pequeno pedaço só está ali porque foi manipulado por pessoas, a matéria-prima foi transformada, transportada e aplicada pelas mãos de diversos indivíduos, independentemente do grau de mecanização da obra. Isso também acontece, em parte, porque o produto final, a obra (principalmente a residencial), mesmo dividido em suas unidades (ou, no caso, apartamentos), são bens extremamente caros, inalcançáveis para grande parte da população. Sendo assim, quem os adquire se sente na obrigação de deixá-los com a sua cara. E isso se torna o maior pesadelo para a viabilidade das construções industrializadas. Vários já tentaram, entre eles Thomas Edison, inventor da lâmpada elétrica, que criou um sistema de formas metálicas para fabricação de casas, já que também era dono de fábricas de cimento. E Buckminste Fuller, o pai do domo geodésico e outro gênio, que também fracassou com sua casa pré-fabricada feita de alumínio a Dymaxion House.
Perguntas ficam no ar. Poderia ser diferente? É possível "industrializar" a natureza humana de querer se destacar, querer ser diferente? Estamos caminhando para isso. Existem pessoas no mundo estudando meios de suplantar os paradigmas da construção tradicional e artesanal para alcançar a construção industrializada e automatizada tentando, ainda assim, se adequar aos desejos de cada cliente final. E não estou falando simplesmente da utilização de materiais pouco tradicionais como gesso acartonado (que só é novo para nós Brasileiros) ou seus similares. São projetos bem mais radicais.



Um desses visionários é o Dr. Behrokh Khoshnevis da Universidade do Sudeste da Califórnia (USC) que criou um processo de construção baseado nos conceitos de CAD/CAM (Desenho Auxiliado por Computador/ Manufatura Auxiliada por Computador) e Prototipagem Rápida, chamado Contour Crafting, onde unidades habitacionais são construídas por robôs, sem a intervenção humana. E não há limites de formado ou dimensões para a execução da construção, as mais variadas formas, inclusive curvas, são possíveis. O vídeo acima demonstra o processo em escala reduzida, com um dos protótipos da máquina, que neste caso utiliza um material a base de gesso. Isso torna possível cirar uma "linha de produção" de unidades que, embora diferentes entre si, são executadas por apenas uma grande máquina, abandonando a figura humana e, consequentemente, a artesanalidade. A animação a seguir demonstra a proposta da máquina em tamanho real.



Pelas demonstrações percebe-se que tal processo é plausível e viável. Resta pensar o que vai ser dos operários de obra quando essa revolução se tornar real. Afinal robôs não descansam, não cobram hora extra, não ficam doentes, não faltam, não têm vícios... não reclamam. Mas também não têm família para criar. Espero que consigamos viabilizar uma solução para essa massa de pessoas que, muitas vezes, vêem na construção civil a única opção de trabalho pois, ainda hoje, as exigências de qualificação são mínimas, conseguindo agregar quem teve menos oportunidade na vida. E, se recuarmos um pouco na história, vemos que tal fato já ocorreu, de forma irreversível, em várias indústrias como a automobilística e a portuária. O que tornou os carros artesanais obras de arte à preços astronômicos e portos dependentes de estivadores, se não completamente extintos, inviáveis economicamente.

12 fevereiro 2007

Nomes curiosos

Quando se fala em obra todos pensam em projetos, orçamentos, prazos, concreto, tijolo... enfim, sempre se forma, quase que imediatamente, uma visão daquilo que cada um, sendo do ramo ou não, relaciona com o assunto. Essas são palavras comuns utilizadas por todos. Mas, na rotina diária, no convívio com os operários e os mestres-de-obra, surgem outras palavras inusitadas e, muitas vezes, divertidas.
São gêneros que vão dos animais às comidas típicas, do vocabulário das fazendas do interior às associações com objetos do cotidiano.
Quem entra em uma obra e presta bastante atenção às conversas dos trabalhadores pode até pensar que entrou em um zoológico por engano, tantos são os nomes de animais que circulam, de boca em boca. É jerica, caranguejo, sapo, cachorra, gato, até mesmo animais extintos como um dinossauro pode dar o ar da graça. Para quem não conhece esse vocabulário pode estranhar mas são nomes comuns. Todos tem origem na criatividade dos operários, seja por não conhecerem o nome real de tal objeto ou apenas por associarem sua forma ou função aos animais.Como jerica (fêmea do equino jerico) que, como seu parente animal, ajuda a levar carga pesada de um lado à outro. Ou caranguejo, ferragem auxiliar para sustentar a armadura negativa de lajes, cuja forma realmente lembra o crustáceo. A bomba submersa, por estar sempre na água e vibrando foi logo apelidada de sapo e a cachorra da obra só late nas horas de início e final do expediente. E gato não existe só em obra, tem muita gente em casa fazendo na entrada de energia, na TV à cabo do vizinho... E o dinossauro? Dinossauro foi o apelido dado ao garfo para paletes utilizado pela grua. Grua? Grua o guindaste, não a fêmea do grou, aquele pássaro grande, das pernas finas com um penacho na cabeça.
E esse tal de garfo para palete? E olhe que não é o único garfo que se encontra em uma obra. Existe também o garfo para escoramento das formas de vigas, além daquele usado nas refeições. Em se tratando de gastronomia, obra também é um prato cheio. Da farofa ao cuscuz como pratos principais, passando à sobremesa com cocada e pirulito, tudo isso podendo ser servido em uma bela bandeja. Mas a farofa e o cuscuz são feitos de areia, cimento e brita, com menos água para a base e um pouco mais molhado e resistente para o corpo... das sapatas é claro. Mas não concrete a sapata sem colocar a armadura do pilar deixando sempre o espaço certo para a forma com a cocada, que de coco não tem nada. E o pirulito, além de adoçar a boca da criançada segura toda a carga dos muros vizinhos. E nossa bandeja não serve comida ou bebida mas também não deixa que qualquer material que cai do alto da obra chegue ao chão, onde poderia causar graves acidentes.
Penso que outra fonte para tanta criatividade venha a ser a origem dos operários. Muitos migram do interior trazendo com eles a saudade da fazenda e, tentando criar um ambiente mais familiar, acabam associando os nomes comuns que usavam. O curral da construção não confina o gado mas cerca toda fundação garantindo sua marcação precisa pelo peão, que não toca a boiada mas sim a obra.
Além dessas, muitas outras palavras curiosas permeiam a rotina das obras, seja o sargento que não tem patente mas nunca deixa o pilar abrir ou a catarina que deve ter sido a amada de algum guincheiro, batizando com seu nome a viga que sustenta seu equipamento de trabalho, a gaiola. Ou o cabelo, ferro que ajuda a amarrar a alvenaria, espalhado por todo o corpo do pilar, exceto o pescoço, sempre dando uma mão-de-força para a parede não cair.
Mas a peãozada não leva a vida na flauta da escora e só descansa no final da semana depois de muito marretar com a sexta-feira.

11 fevereiro 2007

Pacotão de programas matemáticos para Palm

A matemática está presente na vida de todos, mais ainda no caso das profissões técnicas. Não é surpresa que um dos pontos de convergência em todos os ramos da Engenharia sejam os cálculos. Dos mais simples cálculos de perímetro, área e volume até os mais complexos dimensionamentos de estruturas e análises gráficas. Tentando facilitar um pouco nosso trabalho diário, garimpei uma série de programas gratuitos, relacionados à cálculos, para uso com o Palm.



- SpapCalc5: Uma calculadora básica, mas com um grande atrativo: pode ser chamada sobrepondo-se ao programa que você está usando no momento, sem a necessidade de fechá-lo. Apenas instale o snapcalc563.prc, chame o programa pela primeira vez e siga a recomendação de configuração na figura acima. Para usar a calculadora apenas arraste a caneta entre os ícones inferior e superior do lado direito da área de escrita (nos Palms mas modernos uma lupa e uma estrela, respectivamente);


- Duco: Também uma calculadora simples mas efetuando os cálculos com algarismos romanos;



- EasyCalc: Uma das calculadoras científicas mais completas para o Palm e em português. Após o download instale os seguintes arquivos à partir do diretório binary: calc_pt.prc e mathlib.prc. Existe a possibilidade de utilizar a calculadora no modo básico, científico, inteiros ou gráfico. No modo científico existe uma subdvisão de desenhos da calculadora (tecla S, no lado direito do campo de entrada de dados) apresentando desde as funções trigonométricas, cálculos estatísticos como distribuição binomial e Poisson até cálculo com Matrizes. Os cálculos podem ser feitos nos sistemas decimal, octogonal, binário e hexadecimal. As funções trigonométricas podem ser calculadas em graus, grados ou radianos. Para dar a entrada em uma função específica utilize a tecla "f" no canto superior direito.


Talvez a opção mais prática do programa seja a função Solver, localizada no menu Especial que, nada mais é, do que uma maneira de guardar aquelas fórmulas que você mais usa como. Um exemplo prático torna o processo mais claro. Vamos escrever a fórmula para o cálculo de volume de concreto em sapatas retangulares. Ao clicar em Solver escolha New Worksheet, será solicitando o título da fórmula, digite algo como: Vol. sapata retangular. Em seguida se abrirá uma janela com o título escolhido. Logo abaixo, no campo de edição, digite:
v=(a*b*h)+(z/6*(((2*a+x)*b)+(2*x+a)*y))
Clique em Update e perceba que todas as variáveis são apresentadas num quadro abaixo da fórmula. Para identificar cada variável clique em Note e especifique a varíavel seguida de dois pontos ":" e sua identificação, dessa forma seu campo Note deve se parecer com isso:
Descrição das variáveis:
v: Volume total
a: Lado maior da base
b: Lado menor da base
h: Altura da base
x: Lado maior do topo
y: Lado menor do topo
z: Altura do tronco (cuscuz)
Tendo feito isso, ao clique nas variáveis do quadro sua descrição será apresentada logo acima. Com a fórmula introduzida e as vaiáveis definidas, entre com o valor de cada uma selecionando-a e, em seguida clicando em Modifica. Insira o valor de cada uma e, ao final, selecione o volume "v" e clique em Solve. O resultado será apresentado no quadro, ao lado da variável "v".
IMPORTANTE:
a) A função Solve só aceita letras minúsculas como variáveis, as quais podem ser seguidas por índices numéricos. No exemplo poderíamos ter utilizado h1 e h2, no lugar das alturas h e x, respectivamente;
b) Ao criar novas fórmulas utilizando variáveis já em uso, ao clicar em Update, os valores do último cálculo serão apresentados. Apenas selecione a variável, e corrija o valor para o cálculo com a nova fórmula;
c) Tome especial cuidado com a colocação dos parenteses na fórmula. A falta ou excesso desses pode acarretar em cálculos incorretos ou mensagens de erro do programa.
Para maiores informações sobre a EasyCalc verifique esse pequeno tutorial (em inglês).



- DayCalc: Calcula a diferença de tempo entre datas, em dias, horas ou uma combinação destes;


- Geometry Calculator: Programa simples para cálculo de área e perímetro de algumas figuras planas como triângulos, arcos e elipses, volumes e superfícies de esferas, cilindros e cones. Também apresenta, no menu Algebra a solução para equações de 2 ou 3 variáveis e de segundo grau.

- Lyme: Um espécie de MatLab para Palm. Um programa poderoso para cálculo numérico e sistema de matrizes, inclusive com funções gráficas. Possuí um quantidade de funções matemáticas superior as apresentadas pela EasyCalc. Descompacte o programa e instale todos os arquivos disponíveis no diretório Install. A documentação detalhada do programa pode ser encontrada aqui.



- Unit Converter Pro: Conversor de unidades englobando, praticamente, todas as grandezas conhecidas. Apenas selecione a unidade de origem em From e destino em To, escreva o valor e o cálculo será feito automaticamente. Algumas das possibilidades de conversão incluem: comprimento, luminância, fluxo magnético, massa, permeabilidade, força, pressão, resistência, temperatura, torque, entre outras.

- PhysConstants: Uma coletânea de constantes físicas e todas as unidades a elas relacionadas.

Todos os programas apresentados são gratuitos podendo ser utilizados livremente, sem restrições para uso.